Meus primeiros toques no botão foram por volta dos 12 anos. Na ocasião morava no Rio de Janeiro e praticava com colegas do Colégio Militar. Jogava em casa com meu pai e meu irmão mais velho. Tínhamos uma mesa adaptada para o jogo. Era uma daquelas mesas antigas de cozinha, com gaveta. Tinha a marcação do campo e bordas de proteção nas laterais.
Muitas vezes treinava sozinho nessa mesa, encostada na parede, onde posicionava a goleira, simulando jogos com 4 ou 5 botões de cada time, alinhados frente a frente, um time à direita e outro à esquerda, em posição perpendicular ao que seria a linha de fundo de um campo imaginário. Ainda narrava os jogos imitando os bordões dos narradores de então, da Rádio Globo do Rio, Jorge Cury e Waldir Amaral eram os destaques da época, por volta de 1967/68.
Já adulto, com 2 filhos adolescentes, meu pai nos presenteou com uma mesa oficial, comprada na loja Mimo, agora já residindo em Porto Alegre. Muitas tardes, após o almoço de domingo, disputávamos partidas de botão, na regra 1 toque. Era uma alegria para o Vô Wilmar, jogar com o filho e os dois netos. E o velho jogava muito bem.... saudades!!!
Meu pai Wilmar em jogo
Aos poucos, não sei precisar o momento, a prática do Futmesa foi abandonada.... Acho que ao menos uns 25 anos sem jogar, até que meu primo Paulo Roberto, que tem 2 filhos homens na mesma faixa etária dos meus, nos convidou para um encontro, na sua casa, para jogarmos botão, aproveitando a ocasião que seu filho Bruno, morador de Londres, estava em Porto Alegre, era o dia 10 de agosto de 2023. Foi um encontro maravilhoso, com mesas pequenas tipo Xalingo e botões antigos que cada um tinha guardado (alguns até de nossa confecção, do Paulo e minha – guardo até hoje uns botões que fiz com casca de coco!). A esta altura, até meu neto Leonardo, então com 6 anos, participou da brincadeira e eu já com 68 anos.
O coquinho, confecção própria em casca de coco
Foi estopim para a volta! Sem combinarmos, Paulo e eu começamos a pesquisar sobre o Futmesa e encontramos a ZONA SUL FUTMESA. Os nossos encontros de botão, se repetiram mais algumas vezes e ainda ocorrem, na casa dele. Passamos a frequentar a ZONA SUL, por convite do então Presidente José Pellin, que o Paulo já conhecia de tempos antigos na Tristeza, além de ser paciente do Médico Oftalmologista Pellin.
Desta forma foi restabelecida a paixão pelo Botão. Paulo, seu filho Caio, meu filho Eduardo e eu, nos associamos a ZONA SUL FUTMESA em dezembro de 2023 e passamos a integrar esta família de amigos, sendo recebidos com muito carinho e camaradagem por todos, mas sem perdão nos jogos iniciais, aplicando-nos, além dos ensinamentos, sonoras goleadas!
Descobrimos um mundo novo, que não imaginávamos que existisse tão organizado, em Federações Estaduais e uma Confederação Nacional que promovem diversos torneios por todo o país. A ZONA SUL FUTMESA passou ser uma referência em nossas vidas, quando
pensamos em amizade, fraternidade, companheirismo, tudo com muito calor humano, muita seriedade e lealdade nas competições de “BOTÃO” de que participamos.
Como diz o Pellin, “a Zona Sul Futmesa é a nossa terapia, o consultório dos nossos psicólogos e psiquiatras, que todos somos uns para os outros”.
Usamo-las tanto, com tanto empenho e sem o mínimo zelo, que nem notamos a sua importância em nossas vidas de botonistas. Por vezes montamos sobre elas, na busca daquele chute certeiro, em uma posição difícil, para alcançarmos o objetivo máximo do esporte que amamos... o Gooooooool. Um gol de vitória, talvez no último lance. Um gol de empate para fugir da derrota, ou mesmo um gol na derrota, seja o de honra, quando o placar do adversário já está fora de alcance, ou mesmo o de desconto, para reduzir o impacto no nosso saldo de gols na classificação de um torneio.
A mesa... Companheira insubstituível que nos proporciona o prazer do esporte FUTMESA.
Confeccionada em madeira, de diversos tipos, variadas espessuras, com bordas de proteção ou com fosso em tecido, goleiras de ferro ou madeira com o velho filó, que nos leva a sonhar que estamos balançando as redes de um imenso estádio de Futebol lotado de torcedores.
Sonhar, é o que mais fazemos ao praticar o FUTMESA... Sonhar que ainda somos crianças de calças curtas, pés no chão, chutando uma bola em busca do gol, só que sobre uma “mesa de botão”, os conduzindo com palhetas, réguas ou até com as unhas, em seu deslizar silencioso em busca de impulsionar a bolinha, seja em disco, esfera ou dadinho, na direção das redes de filó. É o gol. Momento mágico, trajetória sonhada, acalentada em devaneios.
Mas estas crianças cresceram, são pais, avós e até bisavós... Não importa a idade. Importa sim a adoração pela peleia amiga, o divertimento, as amizades que se estreitam a cada partida, a cada encontro, a cada vitória, derrota ou título, sem falar dos encontros festivos, dos nossos “churras”, pelos aniversários ou por um título conquistado, em disputas com outras agremiações botonistas. Um relacionamento que traduz, confiança e lealdade, aceitação dos defeitos de cada um e admiração por suas virtudes. Muitas ajudas mútuas vivenciamos no ambiente botonista. Uma palavra, um gesto, um conforto nas horas difíceis. Já foi dito, que a prática botonista, vale mais que muitas horas de terapia.
Ao reiniciarmos a prática do FUTMESA, após mais de 20 anos, nos reencontramos com as nossas inspiradoras mesas, as musas de nossa imaginação. Até confeccionamos uma para termos em casa. Um trabalho de amor, de carinho, de concentração, a cada corte na madeira, a cada lixada, a cada pintura e na marcação de suas linhas, que traçam os limites infinitos de nossos sonhos.
Parafraseando o poeta Cartola....
Queixo-me às mesas.
Mas que bobagem, as mesas não falam,
Simplesmente a mesas refletem, os sentimentos que roubam de nós.
Mesa em confecção
Pronta em uso sobre a mesa da sala
O objeto do sonho botonista